Logo abaixo a Galeria dos Meus Leitores Especiais

Autor

Autor
Pseudônimos

Num barco, no mar revolto de palavras

Um texto só sobrevive, se arrebanhar um leitor!!!!
Um leitor só existe, se alguém escrever!!!


domingo, 12 de março de 2017

O problema do Zé

O problema do Zé


Era sábado de carnaval. O Zé se aprumava em pé perto da porta da sala, lado de fora, sentou-se na cadeira de plástico, tirou os chinelos, pôs um sobre outro em forma de cruz e acendeu um cigarro.

Pelo viés da porta enxergava na TV as imagens do carnaval. Lembrou-se das pingas, das mulheres, dos repiniques, dos ganzas daquela boa época.

Não foi muito longe nas memórias, sua mulher passou e desfez a Cruz Chinelal.
Ele não gostou do que ela fez, a cruz era dele, era ele quem deveria desfazer a cruz, não ela! A cruz não era dela!!!

Não queria se aborrecer! Jogou o toco de cigarro no chão e foi apagar com pisão forte. Seus chinelos não aprovaram essa ideia. Achou melhor esse não. Balançou a cabeça para o aborrecimento resfriar. Não queria se apoquentar.

Tentou engatar uma quarta marcha e desembocar naquele carnaval antigo, da escola de samba antiga, daquela cabrocha antiga, dos problemas antigos, entretanto a imagem da sua cruz feita pelos chinelos havaianas, agora desfeita por sua mulher, não saia da sua cabeça, atrapalhou os pensamentos e agora também ela não saia da sua cabeça.

O problema era do Zé, por que ela tinha que mexer? Se o problema era do Zé, então era problema do Zé!! O Zé que se vire com o problema!!!

Num soslaio, a mulher olhou para Zé e disse:
- Sarou?

O Zé olhou para ela e, com os dentes cerrados, replicou:

- Você mexeu com problema do Zé e se o problema é do Zé, é o Zé que resolve!!!

- Para de resmungar aí, tá atrapalhando a TV!

O Zé, só de pirraça, cruzou os chinelos novamente.

Num repente veio o mal balançando negativamente a cabeça e descruzou os chinelos e, com as mãos na cintura, finalizou com uma frase de efeito:

- Tá chamando a morte, imbecil? Tá sem sal? Vai tomar uma no bar que sara!!

O Zé olhou para aquele monte de pano obesial que se afastava, enfiou a mão no bolso, retirou a grana, contou seus trocados, pensou nas vantagens de cruzar os chinelos no bar do Último gole!

Lá era a verdadeira Pasárgada, era amigo do dono, o problema do Zé, era do Zé e mais protegido do mal. Cortaria o mal pela raiz! Foi-se.
(Santiago Derin)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leitor, preciso de você!!
O meu texto só existirá se você ler!!
Deixe suas impressões! Abraços!!