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segunda-feira, 20 de maio de 2013

A lembrança vem à tona


                                                                                                                                                   

A lembrança vem à tona


 A vida do ser humano reserva tanta coisa, tantas histórias que só mesmo as lembranças para resgatar o homem que fomos.  Se o senhor permitir e não atrapalhar os seus afazeres, gostaria de relatar os fatos sobre aquele edifício alto, bonito, com sacada e um jardim suspenso. Na época, não passava de uma casa assobradada em ruínas com o térreo e o primeiro andar.
Vivíamos em um grupo de agregados cidadãos de segunda classe, aqueles que se diferenciam porque vivem dos restos de uma sociedade marginalizadora  e sem proposta de uma política de promoção social!
Aflora, na minha memória, o caminhão parando na frente da nossa maloca, os homens descendo e apanhando as suas ferramentas. O dono nem quis saber quem residia ali e por quê. Determinou, com uma voz autoritária, o desmanche do nosso lar! Obrigaram-nos a juntar todos os nossos pertences que se resumiam apenas à dignidade de ser humano, duas calças já carcomidas pelo tempo, minha santinha, presente de uma senhora da feira-livre, duas camisas velhas  e uma blusa surrada. Os demais colegas também não passavam dessa mesma quantia de coisas.
A situação tensa experimentada por nós não confortava ninguém, nem mesmo os transeuntes que naquele momento presenciavam a nossa retirada do local! Saímos desolados eu, Joca  e  Joselino Mato Grosso, os causadores daquele tumulto. Havíamos construído a nossa maloca em propriedade alheia. Mato Grosso não entendia a falta de sensibilidade do dono da casa;  eu, para aliviar a situação, argumentei: “ Os homens estão com a razão, nós acharemos outro lugar!”  João Carlos ,o popular Joca, expressou o momento num dito popular: “ Deus dá o frio conforme o cobertor!”.
Hoje, vinte anos após a demolição, nesta avenida, tudo mudou. Tornei-me, até por ironia do destino, engenheiro civil. Os meus amigos viraram andarilhos urbanos, já os vi tirando um cochilo nas gramas dos jardins! Um dia paguei-lhes  almoço e dei-lhes uns trocados,  até nos lembramos da canção que entoávamos na época:
“Saudosa maloca, maloca querida, dim dim donde nós passemos dias feliz de nossa vida” .
(Santiago Derin)

                                                                                                                                                                                         

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