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Num barco, no mar revolto de palavras

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quinta-feira, 23 de março de 2017

A imagem não sorriu

A imagem não sorriu


Levantou de manhã apressado, olhou no espelho, cumprimentou a própria imagem e lhe desejou sorte na batalha na selva de pedra.

Apertou suavemente a velha conhecida pasta dental, retirou-a com um leve roçar da escova. Esfregou a escova nos dentes, como se quisesse lavar também as palavras que usaria nas hipóteses de argumentação.

Esquentou o leite no microondas, em seguida colocou uma colher de café solúvel. Abriu o pão amanhecido e o recheiou com várias fatias de mortadela. Naquele momento passava na TV a operação da Polícia Federal "Carne Fraca".

Ouviu que a mortadela que comia, era feita com carne estragada. Olhou nela com repugnância, torceu o nariz, balançou a cabeça negativamente, entretanto abriu a boca e meteu com vontade os dentes naquela metade restante do lanche.

Pensou "Ela é muito melhor que a cocaína...". Vestiu-se rapidamente, pegou os pertences, olhou sobre a mesa, escolheu, entre três identidades, aquela mais conveniente e saiu.

Onze horas já estava no banco da praça a espera de seu trabalho. Não demorou muito, apareceu um rapaz que se sentou ao seu lado e conversaram sussurradamente por meia hora.

Uma hora depois estava com o indivíduo num restaurante de baixa categoria e comeram arroz com feijão e carne moída com batata. Naquele momento a televisão transmitia em segunda edição a operação "Carne Fraca".

Enquanto mastigava saborosamente a carne sem a batata, ouviu que colocaram na carne papelão moído como mistura. Olhou no prato, torceu o nariz, remexeu a carne à procura do papelão. Não o achou.

Encheu várias colheradas de carne e as mandou em direção ao estômago, mas antes pensou "Ela é melhor que a cocaína!". O seu acompanhante ficou o tempo todo no celular em negociação.

Findado a negociação e a refeição, foi informado que viajaria a negócio para a Itália. O negociante saiu e rapidamente voltou e lhe deu um pacote. Marcaram um encontro para o outro dia no aeroporto.

Com o pacote sob as axilas, que poderia ser sovaco pelo cheiro do desodorante vencido e fora da validade, e em função disso, danificaria a pele e posteriormente a carne, segundo a Operação "Carne Fraca" da PF.

Seguiu para a sua casa descansar para a viagem no avião. Morria de medo de altura, preferia comer toda a carne apreendida pela PF. brasileira, até beber suco de cocaína, mas avião era um tormento de cabo a rabo. A única motivação era somente a grana daquele trabalho.

Rezou pedindo sorte para o dia seguinte e foi dormir. Teve um sono conturbado. E, no sonho, no meio da Operação da Policia Federal era um dos envolvidos. Seguidamente o acusavam de assassino em massa, pelo fato de usar mistura proibida com produtos químicos.

Dormiu. Acordou assustado. Dormiu novamente. Acordou não tão assustado. Dormiu...

Acordou de manhã, desejou um bom dia a própria imagem. Fez sua higiene pessoal. Deu um sorriso ao espelho e saiu ver outros preparativos. Achou que a imagem não lhe sorriu.

Levado pelo horário, não voltou para certificar se a imagem não lhe sorriu. Levou na brincadeira, poderia ser que o espelho fosse resultado de algumas mutreta, semelhante as das carne, das empresas misturarem alguma coisa na produção do espelho, elas só pensam em lucro e não nos humanos.

Sem delongas. Engoliu vários pedaços de uma refeição bem diferente. Pensou " Na vida a gente tem que, de vez em quando, engolir sapo". Um carro foi busca-lo e o levou até o aeroporto.

O indivíduo da praça já o aguardava ansiosamente e nervosamente no saguão. Achou esquisito, lá dentro era estranho estar suado. O ambiente era com ar condicionado! Deu de ombros para o observado. Recebeu a orientação e as passagens de ida e volta e seguiu para o check in.

Subiu na aeronave e partiu para enfrentar o medo nas alturas. A sua poltrona era no lado da janela. A curiosidade e o medo de olhar por lá fora o estressavam, ora a curiosidade vencia o medo, ora ela era vencida por ele. A viagem seguiu com essa luta interna.

Quando o comandante anunciou a aterrissagem, o medo assumiu o comando da situação. Sensações estranhas se acumulavam: cãibra nas pernas, coração acelerado, arrepios de frio, o corpo gelado aí foi quando sentiu que no estômago a última refeição brigava com a carne moída com batatas.

Suas pernas começaram a tremer, seu abdômen a inchar até seu corpo desfalecer. O aeroporto foi se aproximando aos poucos até o avião pousar.

Rapidamente veio um ambulância, chamada pela tripulação, que o levou ao pronto atendimento do aeroporto. Os médicos chamaram a Polícia Federal da Itália. Tinham encontrado 40 pacotes de cocaína no estômago do coitado do falecido. A razão era que dois deles estouraram e se misturaram com a carne e a batata e, por conseguinte, provocaram aquele infortúnio. A mistura proibida venceu o medo pela ineficácia da proteção da embalagem de papelão!
(Santiago Derin)

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