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Num barco, no mar revolto de palavras

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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

 Evento de profissional

Desde cedo, o talento de Joaquim já brilhava como uma estrela no céu da infância. Se você duvida, ouça este relato. O pequeno Joaquim, ainda um bebê, foi levado pelo pai ao bar para assistir ao jogo do São Paulo, rodeado pela fervorosa torcida tricolor. Ao chegar, o pai desceu do carro e, como um troféu precioso, carregou o menino até os degraus. Lá, entregou o mini torcedor para a esposa do dono do boteco, que, com carinho, o acomodou em seu andador. Como se fosse um maestro prestes a reger uma sinfonia, Joaquim foi solto no salão do bar.

O menino, com a determinação de um veterano, engatou as marchas de motivação, uma atrás da outra, e começou a mover-se pelo espaço, arrastando mesas e cadeiras como se fossem peças de um quebra-cabeça. Cada movimento era preciso, orquestrando o ambiente para deixar o centro livre, pronto para a grande comemoração que se avizinhava. Os olhares dos presentes se entrecruzaram, percebendo, naquele instante, que Joaquim não era apenas um bebê; ele já exibia um talento natural para organizar eventos, um pequeno prodígio em ascensão.

Com o início do jogo e o salão meticulosamente preparado, a torcida animada acompanhava cada lance, soltando palavrões a cada erro do atacante são-paulino. E então, algo inesperado: Joaquim, como um pequeno guardião da moralidade, abria um choro estridente que cortava o ar como uma navalha, até que os incomodados cessassem seus comentários rudes. Era como se ele soubesse, em sua inocência, que aquilo não era só falta de educação, mas também um desrespeito ao espaço público. A mensagem era clara: se quiser falar o que pensa, que o faça em particular!

A dona do bar, impressionada com a moralização inesperada do ambiente, observava encantada. Na hora do gol do São Paulo, o bar explodiu em alegria, e Joaquim, sem perder o ritmo, gritava e ria, correndo de um lado a outro com seu andador, interagindo com os fregueses como se fosse o anfitrião da festa. A cada gol, recebia abraços e beijos, seu riso se espalhando pelo salão como um contagiante eco de felicidade. O círculo de alegria e motivação parecia não ter fim: a cada nova comemoração, Joaquim se lançava em uma espiral de riso e energia, uma verdadeira festa ambulante.

No término da goleada do São Paulo, exausto de tanto rir e celebrar, Joaquim adormeceu no colo da dona do bar, como se todo o esforço de um dia de trabalho tivesse sido recompensado com o descanso mais doce. O pai, imerso na alegria da vitória e aliviado por não ter que se preocupar com o bebê de dez meses, abraçava os torcedores como se fossem velhos amigos, esquecendo momentaneamente do filho. A surpresa veio na hora de ir para casa: Joaquim, já trocado e pronto para dormir, havia recebido uma fralda emprestada pelo neto da senhora do bar.

Ao chegar em casa, a mãe, que passara esse período em meio à preocupação de que os rojões pudessem assustar o menino, preparava-se para levá-lo à benzedeira na segunda-feira. Mas, ao ver Joaquim tão tranquilo, uma pontada de desconfiança a atravessou. Cheirou-lhe a boca, buscando qualquer indício de que algo estivesse errado, mas só encontrou o delicioso aroma de chocolate. E a surpresa maior veio quando soube que seu filho havia sido "contratado" para organizar os próximos eventos da torcida do São Paulo, cuidando do comportamento e da moralidade dos participantes. Juro que é verdade, e dizem que até existe um projeto de lei para legalizar eventos monitorados pelo pequeno Joaquim.

(Santiago Derin)


Uma Análise – para quem gosta!!!

Estrutura e Narrativa

O texto se desenvolve como uma crônica leve e bem-humorada, utilizando uma estrutura linear com início, meio e fim bem definidos. Ele narra um evento aparentemente comum, mas transforma-o em algo especial ao focar na experiência de um bebê em um ambiente adulto. A narrativa é contada por um narrador onisciente, que acompanha e interpreta os acontecimentos com um toque de humor e ironia.

O texto começa com uma premissa intrigante, sugerindo que o talento do pequeno Joaquim já é evidente desde a infância. Isso cria uma expectativa no leitor, preparando-o para um relato curioso e divertido.

Quanto ao que se refere ao desenvolvimento da narrativa é onde o talento de Joaquim se revela. Através de ações simples, como arrastar mesas e reagir ao comportamento da torcida, o menino se destaca e ganha a atenção dos adultos. As descrições enfatizam o impacto de suas ações no ambiente e nos personagens ao seu redor.

Já o desfecho se apresenta na forma de inesperado e cômico. Joaquim, depois de um dia agitado, é "contratado" para eventos futuros, o que reforça a ideia de que seu talento é realmente notável, ainda que de uma forma irônica e exagerada.

Figuras de Linguagem e Estilo

O texto utiliza várias figuras de linguagem para enriquecer a narrativa e destacar a singularidade de Joaquim, por exemplo, na Metáfora - "O talento de Joaquim já brilhava como uma estrela no céu da infância" - Aqui, o talento de Joaquim é comparado a uma estrela, sugerindo algo natural e inevitável. - "Como um maestro prestes a reger uma sinfonia" - Essa metáfora reforça a ideia de que Joaquim, mesmo sendo um bebê, tem controle e propósito em suas ações.

Quanto a Comparação - "Como se fosse um maestro" - A comparação destaca a habilidade natural de Joaquim em organizar o ambiente ao seu redor. Na Hipérbole - "Seu riso se espalhando pelo salão como um contagiante eco de felicidade" - O riso de Joaquim é exagerado para enfatizar o impacto emocional que ele causa nos presentes. -Destaca até um absurdo -  "Existe até um projeto de lei para legalizar eventos monitorados pelo pequeno Joaquim" - Essa hipérbole é usada de forma humorística, sublinhando o quanto o talento de Joaquim foi levado a sério, de forma exagerada.

No que se refere Ironia - O fato de Joaquim, um bebê, ser contratado para organizar eventos é uma ironia central do texto, que joga com a ideia de que mesmo uma criança pode ser vista como um profissional, dependendo da perspectiva.

Temática e Intencionalidade

O texto explora a ideia de talento inato e como ele pode se manifestar de maneiras inesperadas. Através da figura de Joaquim, a narrativa questiona as expectativas que temos sobre habilidades e responsabilidades, mostrando que, em certos contextos, até mesmo um bebê pode se destacar e ser valorizado. Além disso, há uma crítica sutil ao comportamento adulto, especialmente em espaços públicos. A reação de Joaquim aos palavrões, por exemplo, coloca em questão o que é considerado apropriado em diferentes ambientes e como a moralidade pode ser percebida através dos olhos de uma criança.

Dimensão Emocional e Psicológica

O texto brinca com as emoções de maneira eficaz. Joaquim, embora seja um bebê, é retratado como uma figura central que afeta os outros personagens, tanto emocionalmente quanto ao aspecto comportamental. A narrativa cria uma relação de empatia entre o leitor e Joaquim, especialmente através de suas reações ao comportamento dos adultos. Quanto ao uso do humor e da leveza ajuda a suavizar a crítica implícita ao comportamento da torcida, enquanto a figura de Joaquim serve como um espelho para refletir sobre nossas próprias ações e responsabilidades. O final, com Joaquim adormecendo pacificamente, oferece um fechamento emocionalmente satisfatório, que contrasta com o tumulto e a agitação anteriores, destacando a inocência e a pureza infantil como elementos redentores.

Neurociência e Desenvolvimento Infantil

Embora o texto não aborde explicitamente aspectos da neurociência, ele toca em temas relevantes ao desenvolvimento infantil. Joaquim, apesar de sua idade, demonstra uma capacidade notável de influenciar o ambiente ao seu redor, o que pode ser visto como uma representação de como as crianças, mesmo muito jovens, são sensíveis às interações sociais e às normas culturais. A resposta emocional de Joaquim ao comportamento inadequado dos adultos é um exemplo de como as crianças captam e reagem a estímulos emocionais e sociais desde cedo. Essa sensibilidade pode estar ligada ao desenvolvimento das funções executivas e ao aprendizado de regras sociais, aspectos cruciais para a formação da moralidade e da ética.

Por fim na conclusão o texto "Evento de profissional" é uma crônica bem-humorada e bem elaborada, que utiliza figuras de linguagem e uma narrativa leve para explorar temas como talento inato, moralidade, e o comportamento humano em espaços públicos. Através da figura de Joaquim, o autor consegue entreter o leitor enquanto provoca reflexões sobre as expectativas sociais e o desenvolvimento infantil. A inclusão de humor e ironia torna o texto cativante, e a estrutura bem definida garante que a mensagem seja clara e impactante.

 


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