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Num barco, no mar revolto de palavras

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domingo, 25 de agosto de 2024

 

 Texto Teatral - "Um Índio"


 

[Cena única]

(Um garoto entra em cena cantando uma música sobre índios. Sua vestimenta é um traje tradicional indígena. Uma garota entra logo depois, observando-o com curiosidade.)

 

Garota: (Intrigada) Por que esse traje? E essa alegria toda?

Garoto: (Com um ar de superioridade) Não sabe? (Fala baixo para o público) Como tem gente ignorante neste mundo... (Voltando-se para a garota) Essa é uma vestimenta indígena, claro.

 

Garota: Isso eu sei! O que me surpreende é você estar usando isso.

Garoto: (Para o público) Como tem gente desinformada... (Para a garota) Então você realmente não sabe? Hoje é Dia do Índio!

 

Garota: Isso eu também sei!

Garoto: Então por que você perguntou?

Garota: Só para ver se você sabia!

Garoto: Se eu não soubesse, não estaria vestido assim, certo?

Garota: Errado! Pelo visto, você não sabe nada.

Garoto: (Para o público) Meu pai sempre disse que mulher é complicada... (Para a garota) Ô anta! Se estou vestido de índio, é porque eu sei, sim!

 

Garota: (Com um ar de desafio) Você conhece Gonçalves Dias?

Garoto: Gonçal...ves... Uma vez meu pai mencionou esse nome... Ele não jogou no Corinthians?

 

Garota: (Exasperada) Que Corinthians, moleque?! Estou falando do poeta! O autor dos versos "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá".

Garoto: E você conhece o Serjão Boca de Pilão?

 

Garota: Nunca ouvi falar... Quem é ele?

Garoto: Ele é o autor dos versos "Minha terra tem Corinthians que nasceu para golear!" (Ri sarcasticamente para o público)

 

Garota: Eu não estou brincando!

Garoto: Nem eu. (Ligeiramente sério)

Garota: E "O Guarani", conhece?

Garoto: Claro que conheço! Meu time já ganhou várias vezes desse time.

 

Garota: (Impaciente) Não estou falando de futebol! Estou falando da obra de José de Alencar.

Garoto: José de Alen... Ah! O marido da Gertrude, o engenheiro que mora na esquina?

Garota: (Para o público) Um exemplo acabado de alienação... (Voltando-se para ele) E Jorge Benjor, conhece?

Garoto: Cantor de rap, né?

 

Garota: Caetano Veloso?

Garoto: Funcionário do meu pai... Não! Aquele que é Caetano Pedroso...

Garota: (Com um suspiro) É por isso que eu disse que você não sabe nada.

Garoto: Se você já sabia minhas respostas, por que fez as perguntas?

 

Garota: Porque você não está sendo você...

Garoto: (Confuso, para o público) Acho que essa garota pirou de vez!

Garota: Você, neste instante, está representando toda a ideologia dominante deste país...

Garoto: Epa! Nunca me falaram disso...

 

Garota: Pois eu estou falando! E não só para você, mas para eles também! (Aponta para o público) Jorge Benjor já dizia: "Todo dia era dia de índio." No Brasil, antes da colonização, cada dia era dia de índio. Mas, quando o branco chegou, reduziu isso a um único dia no ano!

Garoto: (Pensativo) E os outros 364 dias do ano, são de quem?

Garota: Agora você está começando a entender... Esses dias foram roubados dos índios e entregues ao branco. Gonçalves Dias cantou o índio em poesia. Sabia que ele escreveu sobre eles?

 

Garoto: (Ainda confuso) Acho que meu pai não comprou esse CD...

Garota: Não é CD, é literatura! José de Alencar transformou o índio em herói nacional. Peri, de "O Guarani", é um exemplo disso. E sabia que já tivemos um índio como deputado federal? O Cacique Juruna, que gravava as promessas dos políticos brancos para tentar garantir os direitos indígenas.

Garoto: E ele conseguiu?

Garota: Infelizmente, não. Os brancos ridicularizaram o Cacique até destruírem sua carreira política.

 

Garoto: Nossa! Os brancos pegam pesado...

Garota: Caetano Veloso escreveu uma música chamada "Um Índio". Nela, ele prevê o dia em que um índio descerá de uma estrela colorida e surpreenderá o branco, não pelo exotismo, mas por dizer o óbvio: o branco, ao tentar enganar e marginalizar o índio, está destruindo a si próprio. O índio representa a pureza da natureza humana. Ele é amor, respeito, e sua sociedade é um exemplo de modernidade. O branco, em sua arrogância, está jogando fora a oportunidade de aprender com isso e, assim, perder a chance de ser verdadeiramente feliz.

 

Garoto e Garota (em uníssono): Ouçam a música! E reflitam sobre esse Índio!

(Ambos olham para o público, a cena termina com uma música indígena tocando ao fundo, enquanto as luzes diminuem.)

 

(Ademar Oliveira de Lima)

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