Texto Teatral
- "Um Índio"
[Cena única]
(Um garoto entra em cena cantando uma música sobre
índios. Sua vestimenta é um traje tradicional indígena. Uma garota entra logo
depois, observando-o com curiosidade.)
Garota: (Intrigada) Por que esse traje? E essa alegria
toda?
Garoto: (Com um ar de superioridade) Não sabe? (Fala baixo
para o público) Como tem gente ignorante neste mundo... (Voltando-se para a
garota) Essa é uma vestimenta indígena, claro.
Garota: Isso eu sei! O que me surpreende é você estar
usando isso.
Garoto: (Para o público) Como tem gente desinformada...
(Para a garota) Então você realmente não sabe? Hoje é Dia do Índio!
Garota: Isso eu também sei!
Garoto: Então por que você perguntou?
Garota: Só para ver se você sabia!
Garoto: Se eu não soubesse, não estaria vestido assim,
certo?
Garota: Errado! Pelo visto, você não sabe nada.
Garoto: (Para o público) Meu pai sempre disse que mulher é
complicada... (Para a garota) Ô anta! Se estou vestido de índio, é porque eu
sei, sim!
Garota: (Com um ar de desafio) Você conhece Gonçalves Dias?
Garoto: Gonçal...ves... Uma vez meu pai mencionou esse
nome... Ele não jogou no Corinthians?
Garota: (Exasperada) Que Corinthians, moleque?! Estou
falando do poeta! O autor dos versos "Minha terra tem palmeiras onde canta
o sabiá".
Garoto: E você conhece o Serjão Boca de Pilão?
Garota: Nunca ouvi falar... Quem é ele?
Garoto: Ele é o autor dos versos "Minha terra tem
Corinthians que nasceu para golear!" (Ri sarcasticamente para o público)
Garota: Eu não estou brincando!
Garoto: Nem eu. (Ligeiramente sério)
Garota: E "O Guarani", conhece?
Garoto: Claro que conheço! Meu time já ganhou várias vezes
desse time.
Garota: (Impaciente) Não estou falando de futebol! Estou
falando da obra de José de Alencar.
Garoto: José de Alen... Ah! O marido da Gertrude, o
engenheiro que mora na esquina?
Garota: (Para o público) Um exemplo acabado de alienação...
(Voltando-se para ele) E Jorge Benjor, conhece?
Garoto: Cantor de rap, né?
Garota: Caetano Veloso?
Garoto: Funcionário do meu pai... Não! Aquele que é Caetano
Pedroso...
Garota: (Com um suspiro) É por isso que eu disse que você
não sabe nada.
Garoto: Se você já sabia minhas respostas, por que fez as
perguntas?
Garota: Porque você não está sendo você...
Garoto: (Confuso, para o público) Acho que essa garota
pirou de vez!
Garota: Você, neste instante, está representando toda a
ideologia dominante deste país...
Garoto: Epa! Nunca me falaram disso...
Garota: Pois eu estou falando! E não só para você, mas para
eles também! (Aponta para o público) Jorge Benjor já dizia: "Todo dia era
dia de índio." No Brasil, antes da colonização, cada dia era dia de índio.
Mas, quando o branco chegou, reduziu isso a um único dia no ano!
Garoto: (Pensativo) E os outros 364 dias do ano, são de
quem?
Garota: Agora você está começando a entender... Esses dias
foram roubados dos índios e entregues ao branco. Gonçalves Dias cantou o índio
em poesia. Sabia que ele escreveu sobre eles?
Garoto: (Ainda confuso) Acho que meu pai não comprou esse
CD...
Garota: Não é CD, é literatura! José de Alencar transformou
o índio em herói nacional. Peri, de "O Guarani", é um exemplo disso.
E sabia que já tivemos um índio como deputado federal? O Cacique Juruna, que
gravava as promessas dos políticos brancos para tentar garantir os direitos
indígenas.
Garoto: E ele conseguiu?
Garota: Infelizmente, não. Os brancos ridicularizaram o
Cacique até destruírem sua carreira política.
Garoto: Nossa! Os brancos pegam pesado...
Garota: Caetano Veloso escreveu uma música chamada "Um
Índio". Nela, ele prevê o dia em que um índio descerá de uma estrela
colorida e surpreenderá o branco, não pelo exotismo, mas por dizer o óbvio: o
branco, ao tentar enganar e marginalizar o índio, está destruindo a si próprio.
O índio representa a pureza da natureza humana. Ele é amor, respeito, e sua
sociedade é um exemplo de modernidade. O branco, em sua arrogância, está
jogando fora a oportunidade de aprender com isso e, assim, perder a chance de
ser verdadeiramente feliz.
Garoto e Garota (em uníssono): Ouçam a música! E reflitam
sobre esse Índio!
(Ambos olham para o público, a cena termina com uma
música indígena tocando ao fundo, enquanto as luzes diminuem.)
(Ademar Oliveira de Lima)
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